Charles Dickens - Grandes Esperanças

Clássicos da Literatura
Charles Dickens - Grandes Esperanças - Editora Companhia das Letras - Selo Penguin Companhia - 704 páginas - Tradução de Paulo Henriques Britto - Introdução de David Trotter e Notas de Charlotte Mitchell, lançamento 26/06/2012 (ler aqui trecho do romance disponibilizado pela Editora).

Gosto muito de ler autores contemporâneos, sempre na expectativa de descobrir novas estruturas narrativas e ideias originais que ajudem a refletir sobre a sociedade atual e o momento histórico que estamos vivendo. No entanto, a chance de ler um romance clássico como Grandes Esperanças de Charles Dickens (1812-1870), em excelente tradução de Paulo Henriques Britto, é uma experiência única que nos faz entender o motivo da verdadeira literatura ser uma arte atemporal e permanente. Principalmente neste ano em que comemoramos 200 anos do nascimento de Dickens, constatamos que, apesar das novidades tecnológicas, o homem não mudou a sua essência e permanece envolvido com as mesmas e velhas questões existenciais não resolvidas, como o conflito entre a ética e o desejo. 

Grandes Esperanças, assim como a maioria dos romances de Dickens e de outros autores da época, foi lançado originalmente como folhetim e publicado na revista semanal All the Year Round entre dezembro de 1860 e agosto de 1861, já na fase final de sua carreira. O livro é dividido em três partes principais, na primeira ficamos conhecendo a origem do jovem protagonista órfão Philip Pirrip ou Pip como é chamado pela irmã megera que o criou após a morte dos pais, juntamente com o bondoso marido, o ferreiro Joe Gargery. A vida de Pip muda drasticamente quando recebe a notícia de que é o herdeiro de uma grande fortuna de um benfeitor misterioso, cujo nome não deve ser revelado em hipótese alguma. O simples conhecimento da nova situação financeira do jovem Pip e de suas “grandes esperanças” muda o comportamento das pessoas da aldeia e do próprio Pip que passa a se envergonhar de sua origem humilde. 

Na segunda parte do romance, Pip se muda para Londres onde deverá ser educado por um tutor de forma a se transformar em um cavalheiro, sonhando em conquistar a linda e inatingível Estella, filha de criação da rica solteirona Miss Havisham da sua aldeia de origem e que Pip suspeita ser a sua benfeitora secreta. Em Londres, ele passa a conhecer as tentações e corrupções de uma cidade grande e abandona lentamente todas as conexões com o seu passado. Dickens faz desfilar uma galeria inesquecível de tipos excêntricos sem dúvida, mas ao mesmo tempo convincentes, em uma narrativa ágil, sempre norteada pelo humor e ironia, onde avançamos sem sentir o peso das setecentas páginas do romance. 

Na terceira e última parte, Pip descobre a identidade do seu protetor, o que lhe causará ainda mais transtornos e o arrependimento pelas opções que escolheu no decorrer de sua vida. O resgate dessa dívida moral é o objetivo do personagem e uma das maiores lições do romance que guarda muitos segredos e reviravoltas. Não pretendo adiantar as surpresas nesta resenha e, por este motivo, recomendo também deixar a introdução de David Trotter para o final da leitura, pois revela muitos trechos do enredo (spoiler), principalmente para aqueles que estiverem lendo o romance pela primeira vez. As notas de Charlotte Mitchell, incluídas nesta cuidadosa edição do selo Penguin Companhia das Letras, são equilibradas e na medida certa para não perturbar o andamento da leitura e explicar as citações e contexto da época de Dickens. Enfim, uma ótima recomendação para comemorar o bicentenário de Dickens.

Comentários

deise disse…
Sua preciosa crítica me deixou tentada a ler.
Anônimo disse…
Dickens não é muito fácil, não é mesmo? É muito século XIX... Mas vale a pena. Tem-se que tirar uns dias de férias para ele e de preferência uns dias nublados, que ajudem a manter o clima mais lacrimoso... rs... [apesar de ele poder ser engraçado, bem engraçado em algumas passagens] Mas nenhuma educação literária é completa sem lê-lo... Assim como Victor Hugo ou ou outros tijolos que foram produzidos na Rússia. Mas voltando a Dickens, é muito mais fácil entender-se as mudanças sociais, o clima dos extremos trazidos pela industrialização quando lemos a obra de Dickens e conseguimos colocá-la no contexto histórico da Inglaterra e do resto do mundo.

Boa lembrança Kovacs da importância de se ler "Great Expectations". Um abraço
nostodoslemos disse…
Bem Kovacs,
Excelente leitura do momento atual em que não dispomos de novas ideias sobre a quantas anda a sociedade contemporânea. Mas imagine a dificuldade de se medir um vendaval, assim vejo nosso momento histórico, em total reviravolta, momento de transição. Medido somente se contabilizado os estragos sofridos e ver o que ficou na essência humana e se agarrar com este saldo, certamente.
A esperança, com esta podemos contar sempre, é o que faz a humanidade caminhar, acredito.
Obrigada por esta preciosidade, vou procurar conhecer mais o autor.
Alexandre Kovacs disse…
Deise, muito recomendado! Obrigado pelo comentário gentil.
Alexandre Kovacs disse…
Peregrina / Ladyce, comentar mais o que? Você resumiu perfeitamente a questão (como entendida que é em literatura americana e inglesa). Obrigado por participar!
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, bonito o seu comentário, precisamos mesmo encontrar o que restou de bom na essência humana depois desse vendaval que foi o século XX e início do XXI. Certamente deve ter permanecido algo de bom ainda!
BABYPRATES disse…
ALEXANDRE.
COM CERTEZA, DEPOIS DE LER SUA CRÍTICA, FIQUEI COM UMA URGÊNCIA DE TER E LER "GRANDES ESPERANÇAS"
CHARLES DICKENS, SEMPRE FOI UMA REFERÊNCIA PARA MIM !!!!!
Alexandre Kovacs disse…
Baby, obrigado pela visita! Dickens em uma edição bem cuidada e ótima tradução, recomendado.

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