J.M. Coetzee - A infância de Jesus

Literatura contemporânea
J.M. Coetzee - A infância de Jesus - Editora Companhia das Letras - 304 páginas - Lançamento 10/04/2013 - Tradução de José Rubens Siqueira (ler aqui trecho em pdf disponibilizado pela editora).

O mais novo romance de Coetzee é uma obra desafiadora e que só mesmo um autor consagrado como ele teria coragem de lançar. Não por ser um livro de contestação religiosa como o título pode sugerir, algo no estilo de O Evangelho segundo Jesus Cristo de José Saramago. Na verdade, nada pode ser tão simples na ficção de Coetzee, as comparações com passagens famosas do Evangelho são tão sutilmente insinuadas que, caso não soubéssemos o título, dificilmente perceberíamos estas conexões. O que mais impressiona é a forma com que o autor trabalha a indefinição narrativa, deixando o leitor angustiado ao perseguir um sentido para o romance que lhe escapa capítulo após capítulo.

Um homem desembarca, juntamente com um menino, em um continente não identificado e em uma época não definida, juntos descobrem uma sociedade distópica e estatal, uma espécie de campo de refugiados no qual, diferente de outros cenários semelhantes da literatura, como o universo totalitário de Orwel em 1984, o que impera é a ingenuidade e apatia dos moradores, a boa vontade de uns com os outros. Neste mundo, representado pela cidade de Novilla, onde o idioma oficial é o espanhol, a falta de emoções mais fortes e, até mesmo o impulso sexual, é exasperante para o recém-chegado que questiona os valores da sociedade local e se recusa a abandonar seus hábitos e memórias em troca da lógica do sistema.

Ambos os personagens recebem novos nomes na recepção de cadastramento, o homem passa a se chamar Simón e a criança David. Eles buscam encontrar a mãe de David, uma tarefa praticamente impossível considerando as condições existentes. No entanto, esta mãe acaba sendo escolhida por eles e, surpreendentemente aceita a responsabilidade pela educação do menino. Os três passam a formar uma estranha família e aprendem a conviver com o espírito questionador do pequeno David que se revela extremamente sensível e inteligente, aprendendo a ler sozinho em uma versão ilustrada de Dom Quixote. No entanto, as habilidades de David não significam que ele tenha facilidades em se entrosar com as outras crianças e o professor da escola. Ele precisará fingir que é "normal" como os outros para não ser afastado e internado em uma escola especial para crianças excepcionais.

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