Haruki Murakami - O incolor Tsukuro Tazaki e seus anos de peregrinação

Literatura japonesa
Haruki Murakami - O incolor Tsukuro Tazaki e seus anos de peregrinação - Editora Objetiva, Selo Alfaguara - 328 páginas - tradução direta do japonês por Eunice Suenaga - Lançamento no Brasil: 01/11/2014.

Poucos escritores contemporâneos desfrutam do privilégio de terem seus lançamentos aguardados com uma devoção similar à que as gerações passadas antecipavam os últimos discos dos Beatles ou Bob Dylan, é assim que Patti Smith inicia sua resenha sobre este romance de Haruki Murakami no New York Times (por sinal, qual outro autor hoje poderia se dar ao luxo de ter uma resenha escrita por Patti Smith com ilustração de Yuko Shimizu em um jornal deste nível?). Existem algumas explicações para o fenômeno Murakami em todo o mundo — principalmente no Japão, onde este romance vendeu no ano passado mais de um milhão de cópias na primeira semana — mas seria muito simplista classificá-lo como um ícone da cultura pop, resultado de marketing pessoal ou editorial. A cada novo romance ele permanece fiel ao seu estilo único que não é oriental nem ocidental, longe das características de um "best seller" tradicional, a sua popularidade parece originar-se mais da nossa identificação com as suas delicadas fábulas modernas onde, em mundos reais ou imaginários, o tema central é sempre a solidão do homem nas grandes cidades e a sua busca por algum significado.

Sobretudo neste último livro, que é menos fantasioso e mais existencial, em cada página acompanhamos gradativamente as descobertas do fragilizado protagonista Tsukuro Tazaki ao tentar vencer o trauma de ter sido abandonado por um grupo de amigos que ele mantinha desde a escola de ensino médio em Nagoia. O grupo era uma espécie de "comunidade que se harmonizava de forma adequada", composto por Tsukuro e mais quatro amigos de personalidades marcantes, cada um com uma cor na composição do ideograma do sobrenome, dois rapazes: Akamatsu ("pinheiro vermelho") e Ômi ("mar azul"), e duas moças: Shirane ("raiz branca") e Kurono ("campo preto"). Somente Tsukuro não tinha esta característica em seu nome, por isso se considerava como "incolor" e achava também, que assim como a ausência de cor no nome, também não tinha nenhuma peculiaridade marcante na sua formação de que pudesse se orgulhar ou exibir, normal, uma pessoa sem atrativos, sentia-se como um "recipiente vazio".

À partir do momento em que é sumariamente banido do grupo sem quaisquer explicações, já morando em Tóquio onde cursava uma faculdade de engenharia, a vida de Tsukuro fica profundamente marcada porque, mesmo não entendendo, ele não consegue ao menos questionar a decisão dos ex-amigos e acaba perdendo completamente o contato com os quatro que permaneceram na cidade de Nagoia. Sem outra alternativa, ele leva a sua vida adiante, trabalhando no projeto e construção de estações de trem. Dezesseis anos depois, Tsukuro conhece Sara, por quem se interessa a ponto de contar toda a sua história e confessar o vazio emocional causado pela perda. Ela o convence a tentar reencontrá-los e entender os motivos que provocaram a sua rejeição e afastamento. Esta busca pela verdade fará com que Tsukuro enfrente uma longa viagem até a Finlandia, mas a jornada mais difícil é aquela que ele precisará fazer para conhecer e superar seus próprios medos e inseguranças.

Um romance que emociona pela simplicidade e sensibilidade com que Murakami descreve os impasses existenciais de seu protagonista, além de todas aquelas maravilhosas e inusitadas referências musicais que sempre amamos nos seus romances, desta vez, "Le Mal du Pays", uma composição para piano, parte de um album triplo de vinil com o conjunto de suítes "Anos de Peregrinação" de Liszt ou "Round Midnight" de Thelonious Monk, interpretada por um misterioso pianista que tem data marcada para morrer. Um livro muito recomendado, tanto para iniciados quanto para os que ainda não leram nada de Haruki Murakami, para citar novamente a resenha de Patti Smith e ela certamente entende do assunto.

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