Arthur Conan Doyle - O livro de Moriarty

Literatura - Arthur Conan Doyle
Arthur Conan Doyle - O livro de Moriarty - Editora Companhia das Letras - Selo Penguin Companhia - 416 páginas - Tradução e Introdução de José Francisco Botelho - Lançamento: 03/02/2017.

Arthur Conan Doyle (1859-1930) criou um dos personagens mais famosos da literatura ao publicar um conjunto de quatro romances e 56 contos, chamado de Cânone pelos ardorosos fãs, sobre o carismático detetive Sherlock Holmes e seu fiel amigo e escudeiro Dr. Watson. No entanto, Doyle tornou-se uma espécie de prisioneiro da sua própria criação, que consumia todo o seu tempo e o impedia de se dedicar a outros projetos literários, como confessou em uma carta de 1891 à sua mãe: "Estou cansado de ouvir o nome de Sherlock Holmes. Ele pertence a um estrato inferior de criação literária. Como prova de minha resolução, estou decidido a matá-lo". E, de fato, criou um vilão à altura do famoso investigador e capaz de eliminá-lo, um personagem que se transformaria em arqui-inimigo e espelho do mal, definido pelo próprio (e vaidoso) Sherlock Holmes como "gênio, filósofo e pensador abstrato, dotado de um cérebro de primeira grandeza", o maquiavélico professor James Moriarty.

Este livro reúne seis contos e um romance, todos com a participação direta ou indireta do professor Moriarty. O conto "O problema final", publicado em 1894, e que abre esta coletânea, finaliza com uma luta mortal entre Holmes e Moriarty que provoca a queda de ambos nas cachoeiras de Reichenbach nos Alpes Suíços, uma cena inesquecível de uma das muitas adaptações para o cinema, a produção "O jogo de sombras" de 2011, dirigido por Guy Ritchie e estrelado por Robert Downey Jr. e Jude Law. Este seria, portanto, o final apoteótico do grande detetive inglês e seu maior inimigo, o único capaz de vencê-lo.
"Ele é o Napoleão do crime, Watson. É o responsável por metade das ações malignas e quase todos os delitos ocultos nesta grande cidade. É um gênio, um filósofo, um pensador abstrato, dotado de um cérebro de primeira grandeza. Permanece imóvel como uma aranha no centro de sua teia; mas nessa teia há mil irradiações, e ele percebe o menor estremecimento em cada fio. Faz pouca coisa com suas próprias mãos. Apenas planeja. Mas seus agentes são numerosos e esplendidamente organizados. Se acaso há algum crime a ser cometido, um documento a ser roubado, uma casa a ser arrombada, um homem a ser eliminado, basta encaminhar o assunto ao professor: o trabalho será planejado e executado de forma infalível. O agente do crime talvez seja preso. Nesse caso, haverá dinheiro de sobra para pagar sua fiança e um excelente advogado. Mas o poder que move o agente jamais é pego; na verdade, nem sequer suspeitam que exista. Com o tempo, Watson, acabei deduzindo a existência dessa vasta organização e passei a dedicar todas as minhas energias à tarefa de desmascará-la e destruí-la.""O problema final", Págs, 29 e 30.
No entanto, em 1903, a pressão popular e, principalmente, comercial (a revista americana Colliers Weekly ofereceu quarenta e cinco mil dólares para ressuscitar Holmes em treze novas histórias) fizeram com que Doyle escrevesse "A aventura da casa vazia" com o retorno de Sherlock Holmes a Londres depois de um desaparecimento de três anos, uma solução que pode não ter sido verossímil ou bem acabada do ponto de vista literário, mas os fãs em todo o mundo adoraram. Infelizmente, o vilão Moriarty não poderia também ter sido ressuscitado, por um mínimo de credibilidade,  e restou ao autor o truque de escrever novas histórias com a dupla de maneira cronologicamente retroativa. O trecho abaixo é a explicação de Holmes para Watson sobre a sua morte forjada e desaparecimento.
"— Eis o que aconteceu. No instante em que Moriarty desapareceu no precipício, ocorreu-me que o destino me estendia uma extraordinária oportunidade. Eu sabia que Moriarty não era o único homem a ter me jurado de morte. Pelos meus cálculos, havia pelo menos mais três criminosos em meu encalço, e seu desejo de vingança cresceria ainda mais após a morte do líder. Eram homens perigosíssimos. Algum deles, em algum momento do futuro, acabaria por me atacar. Por outro lado, se o mundo inteiro acreditasse que eu estava morto, meus inimigos descansariam sobre os louros, baixariam a guarda — e, mais cedo ou mais tarde, eu haveria de destruí-los. E então eu poderia anunciar que continuava no mundo dos vivos. O cérebro humano é realmente veloz: acho que pensei tudo isso antes que o professor Moriarty batesse no fundo das cataratas de Reichenbach." -  "A aventura da casa vazia", Pág 59.
Em "O caso do construtor de Norwood" encontramos Sherlock Holmes terrivelmente desocupado e entediado pois Londres havia se tornado "um lugar singularmente monótono" após a morte de Moriarty. Assim mesmo ele continua utilizando o seu genial poder de dedução para decifrar os crimes que obviamente continuavam ocorrendo na cidade, isso acontece nos contos "O caso do jogador de rúgbi" e "O caso do cliente ilustre". Em "Sua última mesura" o detetive passa a ajudar o governo da Inglaterra na função de contraespionagem no início da Primeira Guerra Mundial, "uma tempestade fria e implacável" se aproximava da Europa e esta foi sua última atividade profissional antes de se retirar para o campo, abandonado a investigação e dedicando-se somente à apicultura. 

"O vale do medo" é o último romance do Cânone escrito por Arthur Conan Doyle, publicado originalmente em uma série na revista mensal inglesa Strand de 1914 a 1915. É a narrativa do Dr. Watson de eventos ocorridos no passado e, portanto, ainda com a participação de Moriarty, encerrando este volume com um complicadíssimo caso de assassinato que envolve uma sociedade secreta e dividido em duas partes, no interior da Inglaterra e nos EUA. Enfim, um clássico imperdível não somente para os amantes das histórias de detetive e suspense, mas também para aqueles leitores que adoram a sensação de não conseguir interromper a leitura, diversão garantida há mais de um século.

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